Retomamos o dossier Underground em Portugal para entrevistarmos o nosso colega Luis Nunes do site Lusitanium.com.
Eis o relato da sua experiência e da sua visão.
1 – Como (e quando) se deu a criação da Lusitanium.com e qual os objectivos pretentidos com a criação da Webzine?
A Lusitanium começou a ser idealizada há uns anos enquanto eu e um amigo nos fascinávamos com algumas bandas que íamos conheçendo, fiquei com uma enorme vontade de fazer parte de uma webzine. Mas já nessa altura haviam webzines com staffs intermináveis e sabiamos que era impossível entrar no campeonato das zines mundiais. Mas além disso não queria fazer uma coisa que há centenas de pessoas a fazer. A certa altura mudámos a ideia do idioma, seria o português. Mas essa originalidade não nos chegava. Entretanto o projecto foi ficando em águas de bacalhau porque não tinhamos conhecimentos para fazer um site com a qualidade que pretendíamos. A certa altura, quando praticamente já tinha abandonado a ideia da webzine apareceu um rapaz que fez um site porreiro e tratou de todas as questões de alojamento, domínio, essas coisas… e foi nessa altura que ficou definido que a webzine seria direccionada para o underground nacional.
2 – Quais os principas problemas que tens deparado durante a edição deste site? Quais os maiores prazeres te dá editares uma webzine como esta?
Esta resposta vem na sequência da resposta anterior. Quando o site ficou novo a estrear o meu companheiro inicial abandonou e o rapaz que fez o site apenas se queria responsabilizar pelo site, fiquei um pouco desapontado mas a vontade era muita e andámos para a frente. A maior dificuldade tem sido manter o staff estável, muita gente entra e sai. De certa forma já me habituei a essas coisas. Não diria que tenho tido problemas, como encaro isto como um hobby é com muita satisfação que vejo o número de visitantes a subir e à medida que vou actualizando o site em todas as secções sinto satisfação.
3 – Com a chegada da internet, das webzines e blogzines tem-se dado a um desaparecimento progressivo das Fanzines de papel. Até que ponto as Webzines serão mais eficazes do que as antigas fanzines e em que ponto não serão? Será que a tendência é o desparecimento das Fanzines em papel?
Os formatos são completamente diferentes a nível de conteúdo, a de formato web é mais eficaz e tem uma muito maior abrangência mas também acredito que não tenha o mesmo encanto, há quem se prenda aos velhos tempos a nível emocional mas acho que efectivamente as fanzines caseiras estão para morrer. Acho que a tendência é para uma certa especialização, os consumidores de webzines e fanzines de papel podem dar-se ao luxo de exigirem qualidade. Por exemplo, considero a Mondo Bizarre e a Underworld duas publicações de grande qualidade a todos os níveis, são gratuitas e estão disponíveis em quase todo o país.
4 – O que é o Underground?
A resposta mais fácil é dizer: O que não é mainstream. O que não se vende ao grande público. São pessoas que fazem música pelo simples prazer que ela lhes dá, não vivem obcecados com a possibilidade ou impossibilidade de viver da música. Sou eu e tu a fazer esta entrevista que sabemos que interessa a um grupo muito, muito restrito de pessoas, ou até mesmo ninguém… hehe … tu sabes o que é, é fazermos isto por gosto.
5 – Existe um movimento Underground em Portugal?
5.1 – Esse movimento para ti goza de grande vitalidade? Quais os defeitos e virtudes do nosso underground?
Claro! Esta entrevista é extremamente UNDERGROUND, nunca me passou pela cabeça ser entrevistado por fazer parte de uma webzine! Agora mais a sério, temos que admitir que o movimento underground nacional não é muito forte, sabes perfeitamente que muitas tours europeias de bandas que fazem dezenas de concertos por todo o mundo não passam cá. Mas não acho que se possa colocar culpas a alguém, falamos de um estilo musical restrito. Compreendo perfeitamente que grande parte das pessoas não aprecie música com berros, são gostos, não há nada a fazer. Mas não devemos dramatizar, ainda assim há alguns eventos importantes como por exemplo o SWR que é um festival que se tem estabelecido ano após ano como um acontecimento importante e a sua importância cada vez é maior.
6 – Até que ponto é e a partir de que ponto deixa de uma banda de ser considerada underground?
A partir do momento em que é reconhecida e apreciada pelo público em geral.
7 – Muitas bandas cá em Portugal demonstram um grande orgulho em ser underground. Isso para ti não é um contra-senso? Os objectivos de uma banda não é se divulgar e serem cada vez mais conhecidas?
Posso interpretar esse orgulho como sendo o troféu de se manterem fieis aquilo que foi o seu objectivo desde o primeiro dia, fazer a música que gostavam. Obviamente que quanto mais gente gostar da musica melhor, mas não se vão deixar guiar por opiniões de terceiros ou por modas, isso pode assassinar qualquer banda.
8 – Existe uma boa divulgação/promoção das nossas bandas underground?
Hoje em dia acho que chega a haver demasiada divulgação. Uma banda começa a tocar passado uma semana têm um mp3 no myspace e já se ouve em todo o lado. Acho que cada projecto deve ser maturado no seu próprio covil e deixar vir cá para fora apenas “produtos finais” porque acabam por ouvir coisas que os desanimam e ficam “marcados” à nascença.
9 – Umas das pechas muito apresentadas é a falta de recintos em qualidade e quantidade que as nossas bandas possam actuar com a frequência desejada. Que opinião tens sobre isto?
Isso é geral, porque os bons recintos não são só usados para o heavy metal, há muitos outros estilos que precisam de bons palcos, boas salas, boas condições. Tudo é movido por dinheiro hoje em dia, é a lei.
10 – Sentes que há um acréscimo de qualidade das nossas bandas? E em termos de mentalidade, esse acréscimo de qualidade é acompanhado?
Qualidade tem aumentado, as condições têm melhorado, tu em casa com alguns euros já consegues fazer coisas semi-profissionais, há emuladores de tudo que é instrumento etc. Em relação a mentalidade acho que cada vez mais as bandas sabem que para conseguirem alguma coisa têm que trabalhar muito, não basta ser bons músicos, tem que se ser original.
11 – Algumas opiniões apontam o dedo à Internet por ter prejudicado o movimento underground. Nomeadamente o feeling uderground. Concordas? Como assim?
Treta. Os tempos mudam e os tempos dos clubes secretos já lá vão, felizmente. A internet permite a pessoas que à distância troquem mp3, falem sobre um certo assunto, organizem excursões a wacken e outros festivais europeus, como é que isso pode prejudicar o que quer que seja?
12 – Sentes das bandas um feedback para o teu trabalho enquanto editor do Lusitanium.com?
As pessoas que contactei até agora foram todas muito simpáticas. Até no início quando as coisas ainda não funcionavam muito bem houve uma pessoa de uma banda que criticou vários aspectos do site, mas foi extremamente educado portanto não tinha porque levar a mal.
Penso que até agora não há ninguém insatisfeito com o nosso trabalho, ou então não nos diz… hehe
13 – Tem surgido algumas opiniões criticas em que há uma linha divisória entre o pessoal ligado ao Black Metal e o restante pessoal. Uma divisão entre Trves e Untrves. Outros criticam que o movimento dividiu-se em pequenos guetos. Qual a tua opinião sobre este assunto?
Não acho que exista essa divisória como dizes. Se bem te lembras há pouco tempo o Pedro dos Grog andou a cantar com os Decayed. Se temos o exemplo dos mais velhos porque não seguir esses bons exemplos. Além disso, quem consegue viver ouvindo apenas um tipo de música é demasiado limitado não achas? Naturalmente que as bandas de black metal poderão sentir maior afinidade entre si, tal como as de death metal porque praticam o mesmo estilo e possivelmente têm mais que conversar entre si quer seja de influências, técnicas, produções etc…
14 – Para ti quais são as melhores e piores bandas nacionais?
Naturalmente tenho os meus gostos pessoais. Destaco The Firstborn, Decayed, Grog, Filii Nigrantium Infernalium, Ironsword, Pitch Black. Piores, não sei, não penses que estou só a ser politicamente correcto mas sinceramente agora não me recordo de nenhuma banda que considere realmente má. Respeito quem trabalha nos seus projectos e naturalmente há pessoas que têm mais talento que outras mas acho que no fim o que importa realmente é o prazer que cada pessoas consegue retirar do que faz.
15 – Como explicas este boom de Black-Metal no nosso pais?
Basta olhares para a quantidade de pequenas editoras nacionais que apareceram recentemente, todas elas querem apresentar trabalho e algumas delas chegam a ser pouco selectivas no material que lançam. Hoje em dia quem tiver uma banda de black metal deve ter dificuldades em não lançar nada.
Eu não sou a pessoa mais indicada para comentar esse assunto porque geralmente sou bastante mais esquisito no que toca a Black Metal, há algumas bandas que gosto bastante como os Decayed ou Corpus Christii como já referi anteriormente mas não estou a par de todos os projectos que têm vindo a surgir. Felizmente para os nossos leitores temos alguns colaboradores que tratam do Black Metal.
16 – Quais os teus projectos para 2007?
Em relação à Lusitanium quero continuar a melhorar os conteúdos do site, estou sempre a tentar torná-lo mais completo e actualizado para que quem o consulte fique agradado com o que vê.
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